segunda-feira, 8 de agosto de 2016

QUANTO DEVEMOS AMAR A JESUS CRISTO


Jesus Cristo, sendo Deus, merece todo nosso amor. Ele nos amou de tal modo que nos colocou, por assim dizer, na necessidade de amá-lo ao menos por gratidão por tudo que fez e padeceu por nós. Muito nos amou para ser amado por nós [1]. É isso que Moisés declarava a seu povo: “E agora, ó Israel, o que te pede o Senhor, senão que temas o Senhor Deus... e o ames? Por isso o primeiro mandamento que nos deu foi este: “Amarás o Senhor, teu Deus, com todo teu coração” (Dt 10,12; 6,5).

Diz São Paulo: “O amor é o pleno cumprimento da Lei” (Rm 13,10). O cumprimento da Lei de Deus é o amor. Mas quem poderia deixar de amar um Deus crucificado, que morre por nosso amor? Os espinhos, os pregos, a cruz, as chagas, o sangue de Cristo clamam por nosso amor! Querem que amemos aquele que muito nos amou. Um coração é pouco para amar um Deus que nos amou tanto. Para retribuir o amor de Jesus Cristo, seria preciso que um outro Deus morresse por seu amor. São Francisco de Sales exclamava: “Por que não nos lançamos sobre Jesus crucificado para morrer na cruz com ele, ele que desejou morrer por nós?” [2]. São Paulo nos lembra que Jesus Cristo quis morrer por todos nós, para que não vivamos mais para nós, mas somente para Deus! “Ele morreu por todos, a fim de que os que vivem já não vivam para si, mas para aquele que por eles morreu” (2Cor 5,15).

Aqui vem, a propósito, a recomendação: “Não esqueçais os benefícios daquele que se responsabiliza por ti, pois ele deu a vida por ti” (Eclo 29,20). Não te esqueças do teu fiador, que para satisfazer teus pecados, quis pagar com sua morte a pena que mereces! Quanto agrada a Jesus Cristo a recordação frequente de sua Paixão!

Quanto se sente se dela nos esquecemos! Se alguém sofre ofensas, maus tratos e prisão por seu amigo, fica muito triste ao saber que o amigo não se lembra nem quer que se fale desse assunto. Ao contrário, quanto lhe agradaria saber que o amigo sempre fala disso com ternura e gratidão! Assim Jesus Cristo fica muito contente que nos recordemos com reconhecimento de amor das suas dores e da morte que sofreu por nós.

Antes de sua vinda à terra, Jesus Cristo era muito desejado pelos antigos patriarcas e por todos os povos. Agora ele deve ser mais ainda o nosso único desejo e nosso único amor pois sabemos que ele veio até nós, sabemos o que ele fez por nós até morrer na cruz por nosso amor.

Por isso Jesus instituiu o sacramento da Eucaristia na véspera de sua morte, recomendando que nos recordássemos de sua morte cada vez que nos alimentássemos de seu corpo: “Tomai e comei, fazei isto em minha memória... Cada vez que comerdes deste pão... recordareis a lembrança da morte do Senhor” (1Cor 11, 24-26). A Santa Igreja repete o mesmo em suas preces: “Deus, que neste admirável mistério nos deixastes a lembrança de vossa Paixão...” Há também um canto que diz: “Ó Banquete sagrado, em que recebemos Jesus Cristo e onde se renova a lembrança de sua Paixão” [3]. Percebemos então, o quanto agrada a Jesus Cristo quem medita sempre em sua Paixão. De propósito ele deixou o seu corpo e sangue no sacramento da Eucaristia para que tivéssemos contínua e grata memória do que sofreu por nós, e assim crescesse sempre em nós o amor para com ele. São Francisco de Sales chamou o Calvário de “Montanha dos que amam” [4]. Não é possível pensar no Calvário, sem amar a Jesus Cristo, que lá quis morrer por nosso amor.

E por que os homens não amam este Deus que fez tanto para ser amado por eles? Antes da Encarnação do Verbo, o homem podia duvidar se Deus o amava com verdadeiro amor. Mas depois da vinda do Filho de Deus, e depois que ele morreu por amor dos homens, como poderíamos ainda duvidar? Santo Tomás de Vilanova diz: “Olha aquela cruz, aqueles sofrimentos, aquela morte cruel de Jesus por ti. Após tantas e tão grandes provas de amor não podes duvidar que ele te ama e te ama muito” [5]. E São Bernardo diz que da cruz e das chagas de nosso Redentor sai um grito para nos fazer entender o amor que ele nos tem [6].



[1] S. Bernardo, In Cantica, sermo 83, n° 4. ML 133-1083
[2] Traité de l'amour de Dieu, I, 7, c.8
[3] Antigo Ofício de Corpus Christi, ant. do Magnificat
[4] Traité de l'amour de Dieu, I. 12, c.13
[5] In Dominicam XVII post Pentec., concio 3, n° 7
[6] S. Bernardo, In Cantica, sermo 61, n° 4. ML 183-1072


(Fonte: livro “A Prática do Amor a Jesus Cristo”, Capítulo IV [transcrição parcial], Santo Afonso Maria de Ligório, tradução Pe. Gervásio Fabri dos Anjos, C.SS.R, Editora Santuário, 7ª edição/1996, pp. 46 a 49)

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