quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A morte do justo é a entrada da vida, por Santo Afonso de Ligório

Haec porta Domini, iusti intrabunt in eam - Esta é a porta do Senhor, os justos entrarão por ela. (Ps. 117,20)


 A morte, considerada segundo os sentidos, causa pavor e temor; mas considerada segundo a fé, é consoladora e desejável; porque, como observa São Bernardo, não é só o fim dos trabalhos e o remate da vitória, como também a porta da vida, pela qual deve passar forçosamente quem quiser entrar no gozo e contemplação de Deus "Esta é a porta do Senhor, os justos entrarão por ela." - São Jeronimo chamava a morte e lhe dizia: Aperi mihi, soror mea - Ó morte, minha irmã, se me não abres a porta, não poderei entrar no gozo do meu Senhor." São Carlos Borromeu, vendo em sua casa um quadro que representava um esqueleto com uma foice na mão, mandou chamar um pintor e ordenou-lhe que apagasse a foice e a substituísse por uma chave de ouro. Queria por este meio inflamar-se mais e mais no desejo da morte, porque é a morte que nos deve abrir o paraíso.

     Se um rei, diz São João Crisóstomo, tivesse preparado para alguém uma habitação na sua própria morada e no entretanto o deixasse viver num curral, quanto não deveria esse homem desejar sair do curral para passar no palácio régio? A alma nesta vive vive no corpo como numa prisão, d'onde deve sair um dia para entrar no palácio do céu. É poir isso que Davi orava assim: Educ de custodia animam meam - Livrai a minha alma de sua prisão. E o santo velho Simeão, quando tinha nos braços o menino Jesus, não lhe soube pedir outra coisa senão a morte, para se ver livre das cadeias da vida presente. Nunc dimittis servum tuum, Domine - Afora, deixas ir o teu servo. "Pede que o deixem ir", diz Santo Ambrósio, "como se fosse retido."

     Qual não foi a alegria do copeiro de Faraó, quando soube por José que dentro em pouco devia sair da prisão e voltar a ocupar o seu posto! E não se regozijará uma alma que ama a Deus, sabendo que dentro em breve vai ser livre da prisão deste mundo e entrar na posse de Deus. É, pois, com razão que a morte dos santos se chama o seu nascimento; visto que pela morte nascem para a vida bemaventurada que nunca terá fim,

    Lê-se na vida de São João o Esmoleiro, que um homem muito rico lhe recomendara o seu filho único e lhe dera muitas esmolas, afim de obter longa vida para esse filho; mas pouco tempo depois o moço morreu. Queixando-se  o pai amargamente da perda do filho, enviou-lhe Deus um anjo que lhe disse "Pediste para teu filho longa vida. Pois bem, sabe que já está gozando dela no céu por toda a eternidade." Tal é a graça que Jesus Cristo nos alcançou, conforme a promessa que nos foi feira pela boca do profeta Oseias: Ero mors tua, o mors - Ó morte, eu serei a tua morte. Jesus, morrendo por nós, fez com que a morte se nos tornasse vida.

    Ó Deus de minha alma, eu, miserável pecador, merecia uma morte desgraçada, porque Vos desonrei pelo passado, voltando-Vos as costas. Mas vosso Filho Vos honrou, sacrificando a vida na cruz. Pela honra que Vos deu vosso amado Filho, perdoai-me a desonra que Vos causei. Ó meu soberano Bem, arrependo-me de Vos ter ofendido; e prometo-Vos que doravante não hei de amar senão a Vós. A minha salvação, espero-a de vossa bondade. Tudo que atualmente tenho de bom, é dádiva de vossa graça; a Vós me reconheço devedor de tudo: Gratia Dei sum id quod sum - "É pela graça de Deus que sou o que sou." Se pelo passado Vos desonrei, espero honrar-Vos eternamente, abençoando a vossa misericórdia.
    Sinto um grande desejo de Vos amar; sois Vós quem me inspirais, e eu Vo-lo agradeço, ó meu amor. Continuai, continuai a ajudar-me do mesmo modo por que tendes começado; para o futuro peço ser vosso, todo vosso. Renuncio a todos os prazeres do mundo. Que maior gozo possa eu ter, do que amar-Vos, a Vós, meu Senhor tão amável e que tanto me tendes amado? É só amor que Vos peço, ó meu Deus, amor, amor. E espero pedir-Vo-lo sempre, até que, morrendo no vosso amor, eu chegue ao reino do amor, onde sem ter que o pedir, estarei cheio de amor e não deixarei nunca mais, um momento, de Vos amar em toda a eternidade e com todas as minhas forças. - Maria, minha Mãe, vós que amais tanto o vosso Deus, e tanto desejais ver amado, fazei com que eu o ame muito nesta vida, afim de o amar muito na outra sempre. 

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